“A mistura de usos é feia. Provoca congestionamento de trânsito. Estimula usos nocivos.” Esses são alguns dos bichos-papões que fazem as cidades combater a diversidade. Tais crenças ajudam a moldar as diretrizes do zoneamento urbano. Ajudaram a racionalizar a reurbanização, transformando-a na coisa estéril, rígida e vazia que é. Atrapalham o planejamento urbano, que poderia encorajar deliberadamente a diversidade espontânea, propiciando as condições necessárias para seu crescimento.
Esse é o capítulo 12
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As intrincadas combinações de usos diversos nas cidades não são uma forma de caos. Ao contrário, representam uma forma de organização complexa e altamente desenvolvida. Tudo o que foi dito neste livro até agora tem como meta mostrar como funciona esse ordenamento complexo de usos combinados.
Contudo, muito embora as combinações intrincadas de construções, usos e panoramas sejam necessárias para os distritos bem-sucedidos, será que a diversidade traz consigo, igualmente, as desvantagens da má aparência, dos usos antagônicos e do congestionamento que lhes são normalmente atribuídas pela doutrina e pela literatura do planejamento urbano?
Essas supostas desvantagens baseiam-se na imagem dos distritos malsucedidos, que não têm muita, mas pouca diversidade. Elas evocam a imagem de áreas residenciais monótonas, dilapidadas, pontilhadas com umas poucas empresas miseráveis, depauperadas. Evocam a imagem de usos menos nobres do solo, como ferros-velhos e pátios de carros usados. Evocam a imagem de um comércio vulgar, esparso, repetitivo. Nenhuma dessas situações, no entanto, representa uma diversidade urbana emergente. Ao contrário, elas representam precisamente a senilidade que se abate sobre os bairros nos quais uma diversidade exuberante não pôde crescer e esvaiu-se com o tempo. Representam o que acontece aos semissubúrbios que são engolidos pela cidade mas não conseguem crescer e atuar economicamente como distritos bem-sucedidos.
A diversidade urbana emergente, do tipo que é catalisada pela associação de usos principais combinados, ruas frequentes, mistura de prédios de várias épocas e custos e forte concentração de usuários, não acarreta as desvantagens da diversidade comumente presumida pela pseudociência do urbanismo. Pretendo demonstrar agora por que ela faz isso e por que essas desvantagens são fantasias que, como todas as fantasias levadas a sério, interferem na forma de se abordar a realidade.
Examinemos, primeiro, a crença de que a diversidade é feia. Sem dúvida, qualquer coisa que foi malfeita tem má aparência. Mas essa crença implica outra coisa. Implica que a diversidade de usos urbanos se assemelha a uma bagunça; e também implica que os lugares marcados pela homogeneidade de usos têm melhor aparência ou são de todo modo mais suscetíveis a um tratamento aprazível ou esteticamente disciplinado.
Porém, a homogeneidade ou grande semelhança de usos, na realidade, apresenta problemas estéticos misteriosos.
Se se mostrar a uniformidade de usos francamente como é – uniforme –, ela parecerá monótona. Superficialmente, essa monotonia pode ser encarada como uma espécie de ordem, embora enfadonha. Do ponto de vista estético, porém, ela lamentavelmente traz consigo uma desorganização profunda: a desorganização de não implicar direção alguma. Você anda por lugares marcados pela monotonia e pela mesmice, mas, apesar de ter andado, tem a sensação de não ter ido a lugar algum. O norte é igual ao sul ou ao leste ou ao oeste. Às vezes norte, sul, leste e oeste são bem parecidos, como quando se está no terreno de um grande projeto habitacional. É necessário haver diferenças – muitas diferenças
– aflorando em várias direções para não perdermos a orientação. As perspectivas visuais inteiramente uniformes carecem desses avisos naturais de direção e movimento, ou os têm em número insuficiente, e portanto são muito desnorteantes. Isso, sim, é uma espécie de caos.
Geralmente todos consideram esse tipo de monotonia opressivo demais para servir de exemplo, exceto certos projetistas de conjuntos habitacionais ou incorporadores imobiliários de visão mais limitada.
Em vez disso, nos lugares em que os usos são realmente homogéneos, não raro descobrimos que distinções e diferenças propositadas são engendradas em meio aos edifícios. Mas essas diferenças engendradas também ocasionam dificuldades estéticas. Por faltarem diferenças naturais – aquelas que provêm de usos genuinamente dessemelhantes – em meio aos edifícios e seu entorno, esses artifícios representam o mero desejo de parecer diferente.
Algumas das manifestações mais gritantes desse fenômeno foram muito bem definidas, em 1952, por Douglas Haskell, editor da Architectural Forum, com o termo “arquitetura kitsch”. Os melhores frutos da “arquitetura kitsch” podem ser vistos nos estabelecimentos essencialmente homogéneos e padronizados de beira de estrada: bancas de cachorro-quente em forma de pão com salsicha, bancas de sorvete em forma de casquinhas de sorvete. Esses são exemplos de uma verdadeira mesmice que tenta, por meio do exibicionismo, parecer singular e diferente de seus vizinhos de comércio similares. Haskell destacou que o mesmo afã de parecer especial (apesar de não ser especial) aparecia também em construções mais sofisticadas: telhados esquisitos, escadarias esquisitas, cores esquisitas, letreiros esquisitos, qualquer coisa esquisita.
Recentemente, Haskell notou indícios de exibicionismo similares aparecendo em estabelecimentos supostamente dignos.
E apareceram mesmo: em edifícios de escritórios, shopping centers, centros administrativos, aeroportos. Eugene Raskin, professor de arquitetura na Universidade de Colúmbia, tratou do mesmo fenómeno no ensaio “On the Nature of Variety” [Da natureza da variedade], na edição de verão de 1960 da Columbia University Forum. A variação arquitetônica genuína, destacou Raskin, não consiste no uso de cores e texturas diferentes.
Não pode ser usando formas contrastantes? [perguntou ele]. Uma visita a um grande shopping center (lembrei-me do Cross County Shopping Center, no Westchester County, Nova York, mas faça sua própria escolha) proporciona um bom exemplo: apesar de lajes, torres, ambientes circulares e escadas suspensas pulularem e abundarem por toda a parte, o efeito é de uma uniformidade aterradora, como os suplícios do inferno. Você pode ser cutucado com instrumentos diferentes, mas tudo dói (…).
Quando construímos, digamos, uma área de negócios em que todos (ou praticamente todos) se preocupam em ganhar a vida, ou uma área residencial em que todos estão mergulhados nos afazeres domésticos, ou uma área comercial dedicada à circulação de dinheiro e produtos – em resumo, onde a atividade humana padrão possui apenas um elemento, é impossível para a arquitetura realizar uma variação convincente – convincente em relação ao que se conhece da diversidade humana. O projetista pode variar a cor, a textura e a forma até que seus recursos de desenho caiam no exagero, provando mais uma vez que a arte é o único meio em que a mentira não vence.
Quanto maior a homogeneidade de usos numa rua ou num bairro, maior a tentação de ser diferente da única maneira que restou para tal. O Wilshire Boulevard, em Los Angeles, é um exemplo de tentativas sucessivas de produzir distinções superficiais, dispostas, ao longo de vários quilômetros de prédios de escritórios intrinsecamente monótonos.
Mas Los Angeles não é a única cidade que nos proporciona paisagens desse tipo. São Francisco, apesar de todo o seu desdém por esses elementos de Los Angeles, tem uma nova periferia muito parecida com isso, com shopping centers e conjuntos residenciais refinados, e pelas mesmas razões. A Avenida Euclid, em Cleveland, que muitos críticos costumavam considerar uma das mais belas avenidas norte-americanas (era, naquela época, essencialmente uma avenida de subúrbio com residências enormes e excelentes em terrenos enormes e excelentes), acaba de ser fulminada, com razão, pelo crítico Richard A. Miller na Architectural Forum, como uma das vias públicas mais horrorosas e desordenadas. Ao ser completamente convertida em via para uso urbano, a Avenida Euclid converteu-se à homogeneidade: outra vez prédios de escritórios, e outra vez o caos das diferenças gritantes mas superficiais.
A homogeneidade de usos apresenta um dilema estético inevitável: a homogeneidade precisa se mostrar homogénea e ser claramente monótona? Ou deve tentar não se mostrar homogénea e adotar diferenças que chamem a atenção mas sejam absurdas e caóticas? No âmbito urbano, esse é o velho e conhecido problema do zoneamento com preocupações estéticas dos subúrbios homogéneos: o zoneamento deve exigir uma aparência semelhante ou deve proibir a mesmice? Se proibir a mesmice, qual seria o limite do que é dessemelhante demais nos projetos?
Em qualquer área urbana cujos usos sejam funcionalmente homogéneos, surge um dilema estético para a cidade, e mais intenso que nos subúrbios, porque os edifícios sobressaem muito mais no cenário geral das cidades. É um dilema ridículo para as cidades, e não há uma solução decente para ele.
Por outro lado, a diversidade de usos, ainda que tratada com desleixo, oferece a possibilidade decente de apresentar um conteúdo com diferenças autênticas. Portanto, essas diferenças podem ser visualmente interessantes e estimulantes, sem hipocrisia, exibicionismo ou inovações surradas.
Em Nova York, a Quinta Avenida, entre a Rua 40 e a Rua 59, tem uma tremenda diversidade de lojas, edifícios de bancos, edifícios de escritórios, igrejas e instituições grandes e pequenas. A arquitetura expressa essas diferenças de uso, e as diferenças resultantes da variação de idade dos edifícios, das diferenças de tecnologia e do gosto da época. Mas a Quinta Avenida não parece desordenada, fragmentada ou destruída1. Os contrastes e as diferenças arquitetônicas da Quinta Avenida provêm principalmente de diferenças de natureza. O todo se sustenta surpreendentemente bem, sem monotonia alguma.
O novo trecho de escritórios da Park Avenue, em Nova York, é muito mais padronizado do que a Quinta Avenida. A Park Avenue leva vantagem por ter em meio aos novos edifícios de escritórios vários que são obras-primas da arquitetura moderna2. Mas a homogeneidade de usos e a homogeneidade de idades ajudam esteticamente a Park Avenue? Ao contrário, os blocos de escritórios dessa avenida aparentam desordem, e, muito mais do que na Quinta Avenida, o efeito geral é a perseverança na arquitetura do caos, recoberta de tédio.
Há muitos casos em que a diversidade urbana inclui o uso residencial com bons resultados. A área da Rittenhouse Square, em Filadélfia, Telegraph Hill, em São Francisco, trechos do North End, em Boston, são alguns exemplos. Pequenos grupos de edifícios residenciais podem ser semelhantes ou até iguais um ao outro sem impor um véu de monotonia, desde que o conjunto não ocupe mais que uma quadra curta e não se repita logo em seguida. Nesse caso, vemos o agrupamento como uma unidade e o enxergamos diferentemente, em natureza e aparência, de qualquer que seja o uso ou o tipo de moradia vizinhos.
A diversidade de usos, associada à diversidade de idade, pode às vezes contaminar-se da monotonia típica das quadras muito longas – e, mais uma vez, sem necessidade de exibicionismo, porque existem diferenças substanciais concretas. Um exemplo desse tipo de diversidade é a Rua Onze, entre a Quinta e a Sexta Avenida, em Nova York, tida como nobre e interessante para um passeio. Ao longo de seu lado sul, ela apresenta, indo no sentido oeste, um prédio de apartamentos de catorze andares; uma igreja; sete casas de três andares; uma casa de cinco andares; treze casas de quatro andares; um edifício de nove andares; cinco casas de quatro andares, com um restaurante e um bar no térreo; um edifício de apartamentos de cinco andares; um cemitério pequeno e um edifício de apartamentos de seis andares com um restaurante no térreo; do lado norte, ainda no sentido oeste, há uma igreja; uma casa de quatro andares ocupada por uma escola maternal; um prédio de apartamentos de nove andares; três casas de cinco andares; um prédio de apartamentos de seis andares; um prédio de apartamentos de oito andares; cinco casas de quatro andares; uma república de estudantes de seis andares; dois prédios de apartamentos de cinco andares; outro prédio de apartamentos de idade bem diferente; um prédio de apartamentos de nove andares; uma nova seção da Nova Escola de Pesquisa Social, com biblioteca no térreo e vista da rua para o pátio interno; uma casa de quatro andares; um prédio de apartamentos de cinco andares com restaurante no térreo; uma lavanderia de um pavimento com aspecto desleixado e vulgar; um prédio de apartamentos de três andares com uma confeitaria e uma banca de jornais no térreo. Apesar de quase todos esses prédios serem residenciais, eles dão espaço a dez outros usos. Mesmo os edifícios inteiramente residenciais abrangem várias épocas de tecnologias e gostos, vários modos e custos de vida. Exibem uma profusão fantástica de diferenças prosaicas e modestas: andares térreos com alturas variadas e soluções diversas para as entradas e o acesso pela calçada. Isso tudo se deve ao fato de que os prédios são realmente de tipos e idades diferentes. O efeito é ao mesmo tempo sereno e despojado.
Efeitos visuais ainda mais interessantes, e mais uma vez sem necessidade de exibicionismo ou outras esquisitices, podem provir e de fato provêm de misturas de tipos de construções urbanas bem mais radicais que as da Rua Onze – mais radicais no sentido de constituírem diferenças naturais mais radicais. A maioria dos marcos de referência e de atração visual nas cidades – cuja quantidade deve ser sempre grande, nunca pequena – deve-se ao contraste provocado por um uso radicalmente diferente daquilo que o rodeia, e portanto com uma aparência especial toda sua e uma localização feliz, que realcem sua diferença natural. É disso, claro, que Peets estava falando (veja o Capítulo 8) ao defender a ideia de que os prédios monumentais ou nobres fossem colocados dentro da matriz da cidade, em lugar de serem separados e segregados em “cortes de honra”, em meio a outros vizinhos intrinsecamente semelhantes.
Além do mais, não se devem menosprezar as outras diferenças radicais de elementos mais modestos das combinações urbanas por causa da aparência. Elas também podem dar-nos o prazer do contraste, do movimento e do senso de direção, sem superficialismos forçados: as oficinas que acabam misturadas a residências; os prédios de fábricas; a galeria de arte ao lado do mercado que me encanta toda vez que vou comprar peixe; a pomposa mercearia de gastronomia em outro ponto da cidade, contrastando e coexistindo pacificamente com um bar alegre, do tipo que atrai novos imigrantes irlandeses que estão à procura de emprego.
As diferenças genuínas no panorama arquitetônico urbano expressam, como diz Raskin com muita propriedade,
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o entrelaçamento de manifestações humanas. Há muita gente fazendo coisas diferentes, com motivos diferentes e com fins diferentes, e a arquitetura reflete e expressa essa diferença, que é mais de conteúdo que somente de forma. Por serem humanas, as pessoas são o que mais nos interessa. Na arquitetura, tanto quanto na literatura e no teatro, é a riqueza da diversidade humana que dá vitalidade e colorido ao meio humano (…).
Com relação ao risco da monotonia (…) a maior falha das nossas leis de zoneamento encontra-se no fato de permitirem que toda uma área seja reservada para um único uso.
Ao buscar uma organização visual, as cidades podem escolher entre três alternativas amplas, duas das quais são irrealizáveis e uma, promissora. Podem ter como meta áreas com homogeneidade que se mostrem homogêneas e obter resultados deprimentes, desconcertantes. Podem ter como meta áreas com homogeneidade que tentem não parecer homogêneas e obter resultados vulgares e enganosos. Ou podem ter como meta áreas de grande diversidade e, uma vez que as diferenças reais já estão expressas, obter resultados que, na pior das hipóteses, são pelo menos interessantes e, na melhor das hipóteses, encantadores.
Como harmonizar visualmente a diversidade urbana, como respeitar sua liberdade ao mostrar visualmente que se trata de uma forma de ordem, é o problema estético fundamental das cidades. Discorrerei sobre ele no Capítulo 19 deste livro. Por ora, a questão é esta: a diversidade urbana não
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intrinsecamente feia. Isso é um erro de julgamento, e dos mais banais. Porém, a falta de diversidade é, por um lado, naturalmente deprimente e, por outro, grosseiramente caótica.
Será que a diversidade provoca congestionamentos de trânsito?
O congestionamento de trânsito é provocado por veículos, não pelas pessoas em si.
Nos lugares em que poucas pessoas se instalaram, em vez de uma grande concentração delas, ou nos lugares em que a combinação de usos diferentes não é muito frequente, qualquer ponto de atração particular realmente ocasiona congestionamento de trânsito. Tais lugares, como clínicas, shopping centers ou cinemas, provocam concentração do trânsito – e, além disso, provocam tráfego pesado nas ruas que levam a eles e deles saem. Até mesmo uma escola primária pode causar congestionamentos de trânsito num meio desses, porque não se pode deixar de levar as crianças à escola. A inexistência de uma diversidade ampla e concentrada pode levar as pessoas a andarem de automóvel por praticamente qualquer motivo. O espaço que as ruas e os estacionamentos requerem faz com que tudo fique ainda mais espalhado e provoca um uso ainda mais intenso de automóveis.
Isso é tolerável quando a população se encontra muito espalhada. Mas, nos lugares em que a concentração populacional é alta ou contínua, é uma situação intolerável, que acaba com todos os outros valores e todos os outros aspectos da comodidade.
Em áreas urbanas diversificadas e densas, as pessoas ainda caminham, atividade que é impossível em subúrbios e na maioria das áreas apagadas. Quanto mais variada e concentrada for a diversidade de determinada área, maior a oportunidade para caminhar. Até as pessoas que vão de carro ou de transporte público a uma área viva e diversificada caminham ao chegar lá.
Será verdade que a diversidade urbana estimula usos nocivos? Será prejudicial permitir que todas as modalidades de uso (ou quase todas) estejam presentes em determinada área?
Para examinar isso, precisamos examinar vários tipos diferentes de usos – alguns dos quais são realmente prejudiciais, ao passo que outros costumam ser considerados prejudiciais, mas não o são.
O grupo dos usos menos nobres, do qual os ferros-velhos são exemplo, não contribui em nada para o bem-estar geral, a atratividade do distrito ou a concentração de pessoas. Sem dar retorno algum, esses usos exigem uma exorbitância de espaço – e exigem demais da tolerância estética. Os pátios de carros usados inserem-se nessa categoria. Da mesma maneira, os prédios que foram abandonados ou são muito pouco usados.
Provavelmente todo o mundo (menos, talvez, os proprietários dessas coisas) concorda em que essa categoria de uso é prejudicial.
Porém, não necessariamente os ferros-velhos e similares são uma ameaça implícita à diversidade urbana. Os distritos prósperos nunca têm ferros-velhos, mas não é por causa disso que tais distritos são prósperos. É justamente o inverso. Eles não têm ferros-velhos porque são prósperos.
Os usos econômicos decadentes e que ocupam muito espaço, como ferros-velhos e pátios de carros usados, espalham-se como ervas daninhas nos locais que já são mal explorados e malsucedidos. Brotam nos locais que têm trânsito de pedestres reduzido, pouco magnetismo na vizinhança e nenhuma concorrência acirrada pelo lugar. O local natural para eles são as áreas cinzentas e a periferia decadente dos centros urbanos, onde é baixa a chama da diversidade e da vitalidade. Se se abrisse mão da vigilância sobre as esplanadas dos conjuntos residenciais e todos esses lugares mortos e de pouco uso encontrassem seu nível econômico natural, brotariam neles exatamente os ferros-velhos e os pátios de carros usados.
O problema representado pelos ferros-velhos é mais profundo do que os Combatentes da Praga conseguem perceber. Não adianta nada gritar: “Tirem isso daí! Aqui não é lugar para eles!” O problema é cultivar no distrito um ambiente econômico que torne os usos vitais do solo mais lucrativos e racionais. Se isso não for feito, o espaço pode até ser usado por ferros-velhos, que afinal têm alguma utilidade. Fora isso, a possibilidade de sucesso de qualquer coisa é praticamente nula, e aí se incluem os usos públicos, como parques ou pátios de escola, que fracassam catastroficamente exatamente nos locais onde o meio econômico é muito pobre para as atividades que dependem do magnetismo e da vitalidade das redondezas. Em síntese, não se soluciona o problema simbolizado pelos ferros-velhos temendo a diversidade ou sua extinção, mas sim formando e cultivando um ambiente econômico fértil para a diversidade.
Há uma segunda categoria de usos que urbanistas e planejadores costumam considerar nociva, ainda mais quando tais usos estão misturados a áreas residenciais. Essa categoria abrange bares, teatros, clínicas, negócios e fábricas. Essa categoria não é nociva; os argumentos de que esses usos devem ser controlados com firmeza advêm dos efeitos que eles provocam nos subúrbios e em áreas apagadas, monótonas e inerentemente perigosas, e não de seus efeitos em distritos urbanos movimentados.
Pinceladas superficiais de usos não residenciais não trazem benefício algum para as áreas apagadas e podem até ser prejudiciais, uma vez que essas áreas não estão preparadas para lidar com desconhecidos – e também, pelo mesmo motivo, para protegê-los. Mais uma vez, esse problema resulta de uma diversidade muito tênue em meio à monotonia e às trevas reinantes.
Nos distritos movimentados, onde se catalisou uma diversidade abundante, esses usos não provocam mal algum. São indubitavelmente necessários, seja por sua contribuição direta para a segurança, para o contato público e a interação de usos, seja porque ajudam a sustentar a outra diversidade que recebe esses efeitos diretos.
Os usos industriais despertam outro fantasma: chaminés fumegantes e cinzas em suspensão. É claro que chaminés fumegantes e cinzas em suspensão são nocivas, mas isso não quer dizer que atividades fabris intensas na cidade (a maioria das quais não origina tais subprodutos desagradáveis) ou outros usos de trabalho devam ser afastados das residências. Na verdade, a ideia de que a fumaça ou os gases devem ser combatidos pelo zoneamento e por categorizações do solo é ridícula. O ar não tem o mínimo conhecimento dos limites das zonas urbanas. Só têm sentido as regulamentações que visem especificamente a fumaça e o mau cheiro.
No círculo dos urbanistas e planejadores urbanos, o grande tabu do uso do solo costumava ser a fábrica de cola. “Você gostaria de ter uma fábrica de cola no seu bairro?” – esse era o bordão. Não sei por que uma fábrica de cola, a não ser que talvez, naquela época, cola lembrasse cavalos mortos e peixes em decomposição, e a simples referência a ela fizesse as pessoas distintas sentirem arrepios e pararem de raciocinar. Havia uma fábrica de cola perto de nossa casa. Era um prédio de tijolos pequeno e atraente, um dos locais do quarteirão que pareciam mais limpos.
Hoje, a fábrica de cola foi substituída por um bicho-papão diferente, a “funerária”, apresentada como exemplo máximo dos horrores que se insinuam pelos bairros que não dispõem de rígido controle de usos. Ainda assim, as casas mortuárias, ou funerárias, como as chamamos na cidade, parecem não causar mal algum. Talvez nos bairros diversificados, cheios de vitalidade, em meio à vida, a lembrança da morte não seja tão pesada quanto deve ser nas escassas ruas de um subúrbio. Curiosamente, os defensores dos controles rígidos de usos, os quais se opõem tão firmemente à morte nas cidades, parecem opor-se com idêntica firmeza ao surgimento da vida nas cidades.
Uma das quadras do Greenwich Village que está desenvolvendo espontaneamente sua atratividade, sua participatividade e seu valor econômico, tem neste momento, coincidentemente, uma funerária, que lá está há quatro anos. Isso é condenável? Obviamente, ela não foi um empecilho para as famílias que empregaram dinheiro na restauração dos casarões, nem para os homens de negócios que têm investido dinheiro na abertura ou na reforma de escritórios, nem para o construtor que está erguendo um edifício de apartamentos de alta renda3.
A ideia esquisita de que a morte deveria ser um elemento imperceptível ou impronunciável na vida urbana foi claramente discutida em Boston, há um século, quando urbanistas defenderam a remoção dos antigos cemitérios das igrejas do centro da cidade. Nascido em Boston, Thomas Bridgman, cujo ponto de vista prevaleceu, disse o seguinte: “O local de sepultamento dos mortos, na medida em que exerça alguma influência, é ao lado da retidão e da religião (…). Sua voz é a da reprimenda eterna à leviandade e ao pecado.”
O único indício do suposto mal provocado pelas funerárias nas cidades que consegui encontrar está em The Selection of Retail Locations [A escolha de locais para o varejo], de Richard Nelson. Nelson comprova com dados estatísticos que as pessoas que vão a velórios nas funerárias raramente fazem compras antes ou depois. Portanto, o varejo não tem vantagem alguma em estar próximo de funerárias.
Nos bairros de baixa renda das grandes cidades, como o East Harlem, em Nova York, as casas funerárias podem atuar, e atuam, como um fator positivo e construtivo. Isso porque uma funerária pressupõe uma pessoa empreendedora. As pessoas empreendedoras, como farmacêuticos, advogados, dentistas e clérigos, representam nesses bairros qualidades, como dignidade, ambição e boa instrução. Normalmente são figuras públicas bastante conhecidas, ativas na vida social do local. Elas também entram na vida política com muita frequência.
Assim como boa parte do planejamento urbano ortodoxo, o suposto mal causado por este e aquele uso foi reconhecido como tal sem que ninguém perguntasse: “Por que é nocivo? Como o mal se manifesta e que mal é esse?” Duvido que haja algum uso econômico legal (e alguns poucos ilegais) que consiga prejudicar tanto um distrito quanto a falta de uma diversidade abundante. Não há praga urbana que seja tão devastadora quanto a Grande Praga da Monotonia.
Dito isso, destaco uma última categoria de usos, os quais, a menos que sua localização seja regulamentada, são prejudiciais para os distritos com rica diversidade. Dá para contá-los nos dedos de uma mão: estacionamentos, garagens de caminhões longos ou pesados, postos de gasolina, painéis publicitários gigantescos4 e empreendimentos inadequados não exatamente por sua natureza, mas porque em certas ruas suas dimensões não são apropriadas.
Todos esses cinco usos problemáticos têm condições de ser suficientemente lucrativos (ao contrário dos ferros-velhos) para manter, e tentar encontrar, um espaço em áreas diversificadas e vivas. Porém, ao mesmo tempo eles geralmente empobrecem as ruas. Provocam nelas desorganização visual e são tão dominantes que é difícil – às vezes impossível – destacar-se muito qualquer senso contrário de organização, tanto no uso quanto na aparência da rua.
Os efeitos visuais dos quatro primeiros usos problemáticos são facilmente perceptíveis e analisados com frequência. O problema são os usos em si, devido ao tipo que constituem.
Todavia, o quinto uso problemático que mencionei é diferente, porque nesse caso o problema é o da dimensão do uso, e não do tipo. Em certas ruas, qualquer empreendimento que ocupe um terreno de frente desproporcionalmente ampla desagrega e empobrece a rua, embora exatamente o mesmo tipo de uso, em escala menor, não seja um mal, mas, sim, uma vantagem.
Por exemplo, muitas ruas “residenciais” das cidades abrigam, além das moradias, todos os tipos de usos comerciais e de serviços, e estes se encaixam bem desde que sua fachada não seja maior, digamos, que a de uma residência comum. Literalmente, e também figuradamente, os usos se combinam. A rua possui uma imagem coerente e essencialmente ordenada, além de variada.
Porém, numa rua como essa, um uso que ocupe uma fachada muito ampla parece provocar a explosão da rua – faz a rua desintegrar-se.
Esse problema não tem relação alguma com o uso do solo, na acepção comum que o termo tem no zoneamento. Um restaurante ou uma lanchonete, uma mercearia, uma marcenaria, uma gráfica pequena, por exemplo, encaixam-se bem numa rua daquelas. Mas exatamente o mesmo tipo de uso – por exemplo, um café-restaurante enorme, um supermercado, uma fábrica de móveis ou uma gráfica grande – pode causar poluição visual (e às vezes auditiva) por ser de proporção diferente.
Ruas assim necessitam de regulamentações que as protejam do dano que uma diversificação completamente permissiva sem dúvida lhes traria. Mas as regulamentações necessárias não se referem ao tipo de uso. São necessárias regulamentações sobre a extensão do terreno permitida para determinado uso.
Trata-se de um problema urbano tão óbvio e corriqueiro, que se é levado a pensar que sua solução deveria fazer parte das preocupações da teoria do zoneamento. No entanto, nem a própria existência do problema é reconhecida na teoria do zoneamento. Neste momento, a Comissão de Planejamento Urbano de Nova York está realizando sessões sobre um novo código de zoneamento, progressista e bastante atualizado. Organizações e pessoas interessadas foram convidadas a analisar, entre outras coisas, as categorias de zonas propostas em que as ruas se inserem e a recomendar alterações de zonas se isso for necessário. Há várias dezenas de categorias de uso, cada uma delas diferenciada com o maior cuidado e ponderação – e todas elas não têm relação com os problemas de uso da vida real em distritos distintos.
O que se pode recomendar, quando a própria teoria que embasa tal legislação de zoneamento – não meramente seu detalhamento – precisa ser revisada e repensada radicalmente? Essa triste circunstância deu lugar a muitas sessões absurdas de planejamento estratégico, por exemplo, nas organizações privadas do Greenwich Village. Muitas travessas residenciais admiradas e atraentes possuem uma combinação esparsa de estabelecimentos de pequeno porte. Eles geralmente estão presentes com permissão do zoneamento residencial, ou então violando-o. Todos aprovam sua presença, e sua serventia não se discute. A discussão gira mais em torno do tipo de categoria no novo zoneamento que será menos contraditório com as necessidades da vida real. Os inconvenientes de cada uma das categorias apresentadas são formidáveis. O argumento contra a categoria comercial para essas ruas é que, embora se vão permitir os usos vantajosos em pequena escala, o uso comercial também será admitido, sem menção à escala; por exemplo, os grandes supermercados serão permitidos, e os moradores têm receio de que eles fragmentem ruas desse tipo e destruam seu perfil residencial – o que é verdade. Se se estipular uma categoria exclusivamente residencial, segundo esse ponto de vista, os pequenos estabelecimentos se infiltrarão, desrespeitando o zoneamento, como fizeram no passado. O argumento contra a categoria residencial é que alguém pode realmente levá-la a sério e obrigar a aplicação da lei de zoneamento contra os usos de pequeno porte “não previstos”! Os cidadãos íntegros, que se preocupam genuinamente com os interesses da vizinhança, participam das reuniões ponderadamente, maquinando que regulamentação possibilitará as brechas mais benéficas.
O dilema é premente e real. Uma rua do Greenwich Village, por exemplo, insurgiu-se há pouco tempo precisamente contra um problema desses, causado por uma ação que corria na Comissão de Padrões e Recursos. Uma padaria dessa rua, que fora um estabelecimento pequeno de varejo mas cresceu vertiginosamente e se transformou em um grande atacadista, estava reivindicando a abertura de uma exceção no zoneamento para ampliar consideravelmente suas instalações (apoderando-se do estabelecimento vizinho, antes ocupado por uma lavanderia atacadista). A rua, que havia muito era classificada como residencial, estava promovendo várias reformas, e muitos dos proprietários e inquilinos, com orgulho e preocupação por ela cada vez maiores, decidiram lutar contra o pedido de exceção. Perderam. Não surpreende que tenham perdido, porque sua causa era confusa. Alguns dos líderes da contenda, que eram proprietários ou moravam em imóveis cujo andar térreo tinha usos não residenciais em pequena escala, estavam em desacordo, efetivo ou solidário, com a classificação exclusivamente residencial – da mesma forma que a grande padaria. No entanto, precisamente os vários usos não residenciais em pequena escala, que vinham aumentando, eram responsáveis por boa parte da atratividade e do valor crescentes da rua para uso residencial. Eles são um benefício, e os moradores da rua reconhecem isso, porque tornam a rua atraente e segura. Entre eles há uma imobiliária, uma pequena editora, uma livraria, um restaurante, uma loja de molduras, uma marcenaria, uma loja que vende pôsteres e gravuras antigas, uma doceria, uma lavanderia, duas mercearias e um pequeno teatro amador.
Perguntei a um dos líderes da disputa contra o pedido de exceção à padaria, homem que é também o maior proprietário de prédios residenciais reformados da rua, qual alternativa, em sua opinião, seria mais prejudicial para o valor de seus imóveis: a eliminação gradual de todos os usos “não residenciais” da rua ou a ampliação da padaria. A primeira alternativa seria mais desastrosa, respondeu ele, acrescentando: “É claro que uma opção como essa é absurda!”
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absurda. Uma rua dessas é um quebra-cabeça e uma anomalia segundo a teoria tradicional do zoneamento do uso do solo. É um quebra-cabeça até mesmo como problema de zoneamento comercial. À medida que o zoneamento comercial se tornou mais “progressista” (i.e., uma cópia das condições de um subúrbio), ele passou a enfatizar as distinções entre “comércio local de bens de uso cotidiano”, “comércio distrital” e coisas assim. O código atualizado de Nova York também contém tudo isso. Mas como é que se classifica uma rua como essa da padaria? Ela dispõe de um comércio tipicamente local (como a lavanderia e a confeitaria) e de atrativos para todo o bairro (como o marceneiro, o emoldurador de quadros, o café) e para toda a cidade (como o teatro, galerias de arte, loja de pôsteres). É uma mistura singular, mas o tipo de diversidade inclassificável que ela representa não é, no mínimo, singular. Todas as áreas urbanas diversificadas e vivas, cheias de vitalidade e surpresas, existem num mundo diferente daquele do comércio de subúrbio.
De modo algum todas as ruas da cidade precisam de um zoneamento sobre a proporção das frentes das lojas. Muitas ruas, particularmente aquelas em que predominam edifícios grandes e largos, seja para uso residencial, seja para outro uso ou para ambos, podem alojar empresas com fachada extensa e misturá-las às pequenas sem aparentar desintegração ou desagregação e sem serem oprimidas funcionalmente por determinado uso do solo. A Quinta Avenida tem essa combinação do grande com o pequeno. Porém, é urgente o zoneamento sobre as proporções dos usos nas ruas que necessitam dele, não só pelo próprio bem delas, mas porque a existência de ruas com características consistentes aumenta a diversidade de perspectivas visíveis da própria cidade.
Raskin, em seu ensaio sobre a variedade, afirmou que a maior falha do zoneamento urbano é permitir a monotonia. Acho que é isso mesmo. Talvez a segunda grande falha seja que o zoneamento ignora a proporção do uso, nos locais em que é importante considerá-la, ou a confunde com o tipo de uso, e isso leva, por um lado, à desagregação visual (e às vezes funcional) das ruas ou, por outro lado, a tentativas indiscriminadas de separar e segregar certos tipos de uso independentemente de suas proporções ou efeitos práticos. A própria diversidade, portanto, é desnecessariamente suprimida, em lugar de se suprimir uma manifestação restrita dela, infeliz em certos locais.
Não resta dúvida de que as áreas urbanas com diversidade emergente geram usos desconhecidos e imprevisíveis e perspectivas visuais peculiares. Mas não se trata de um inconveniente da diversidade. Trata-se da questão essencial, ou parte dela. Isso está de acordo com uma das atribuições das cidades.
Paul J. Tillich, professor de teologia em Harvard, observa:
Por sua natureza, a metrópole oferece o que só as viagens seriam capazes de apresentar, qual seja, o desconhecido. Já que o desconhecido provoca o questionamento e desestabiliza aquilo que é familiar, ele faz a razão elevar-se à sua significação máxima (…). Não existe melhor comprovação desse fato do que as tentativas de todos os dirigentes totalitários de manter o desconhecido afastado de seus assuntos (…). Corta-se a cidade grande em pedaços, cada um dos quais é analisado, expurgado e homogeneizado. O mistério do desconhecido e o raciocínio crítico dos homens são extirpados da cidade.
Essa é uma noção familiar a todos os que prezam e usufruem as cidades, embora sempre se manifeste de forma mais branda. Kate Simon, autora de New York Places and Pleasures [Lugares e prazeres de Nova York], diz praticamente a mesma coisa quando afirma: “Levem seus filhos ao Grant’s [restaurante] (…) pode ser que eles topem com pessoas que talvez nunca encontrem em outro lugar e de que talvez jamais se esqueçam.”
A própria existência de publicações turísticas de cidades, com ênfase na descoberta, no curioso, no diferente, é um exemplo da afirmação do professor Tillich. As cidades têm capacidade de oferecer algo a todos, mas só porque e quando são criadas por todos.
1. Sua única mácula flagrante e também elemento de desestabilização é um conjunto de cartazes de rua na esquina nordeste da Rua
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A intenção dos cartazes parece boa porque, neste momento, eles exortam ingenuamente a multidão de transeuntes a rezar em família, a economizar para épocas de vacas magras e a combater a delinquência. Sua capacidade de convencimento é questionável. Sua capacidade de obstruir a vista da Quinta Avenida a partir da biblioteca é inquestionável.
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Lever House, Seagram, Pepsi-Cola, Union Carbide.
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Essa mesma quadra, aliás, é sempre mencionada nas redondezas como uma ótima rua residencial, e sem dúvida o uso residencial é predominante, tanto de fato como na aparência. Mas veja o que mais ela tem em meio às residências, no momento em que escrevo: a funerária, é claro, uma imobiliária, duas lavanderias, um antiquário, uma firma de financiamento e poupança, três consultórios médicos, uma igreja e uma sinagoga (juntas), um pequeno teatro atrás da igreja e da sinagoga, um cabeleireiro, um conservatório de canto, cinco restaurantes e um edifício misterioso que pode ser qualquer coisa, de escola a oficina artesanal e centro de reabilitação, mas não diz o que é.
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Geralmente, mas nem sempre. O que seria da Times Square não fossem os enormes cartazes publicitários?

